Falar da Espanha não é tão simples como se supõe. É um país com mais de 46 milhões de habitantes, que está composto por uma mistura de culturas, línguas e tradições que são dignas de estudar. A Espanha, sendo uma monarquia constitucional, está construída desde antiguidade por uma unidade de reinos que tinham, cada um deles, suas próprias colunas culturais e idiomáticas. Nos dias de hoje se pode observar claramente essas diferenças culturais em Catalunha, País Vasco, Galícia, e no resto da Espanha, ou a Espanha castelhana. Portanto, falar da Espanha como unidade homogênea não é fácil. Devemos entender a realidade subjacente dessas culturas e línguas para poder desenvolver melhor o trabalho e compartilhar as Boas Novas do Evangelho.
A Espanha mantém uma língua franca e oficial que é o castelhano, mas, ao mesmo tempo, permite e incentiva o desenvolvimento e aprendizagem das línguas nativas das regiões anteriormente mencionadas. Portanto é necessário, antes de vir à Espanha, reconhecer o desafio que representa essa mistura de culturas, línguas, cosmovisões e formas de pensar.
Ainda que a Espanha, oficialmente, denomine-se católica quanto à religião, há algo que devemos identificar e entender de forma mais profunda. A Espanha católica dos séculos medievais e dos reis já não existe mais. Vivemos numa nação que se diz católica por uma tradição familiar, mas não por prática. Este fenômeno tem chegado a ser sociocultural, em virtude de que sentir-se espanhol é sentir-se, ao mesmo tempo, católico por tradição. No entanto, só as pessoas mais velhas permanecem dentro da liturgia católica e, cada vez mais, as gerações seguintes se afastam da igreja. Em 2019 o CIS (Centro de Investigações Sociológicas de Espanha) disse que a porcentagem de agnósticos e ateus (29%) era maior que a dos católicos do país (21%).
O que, realmente, está acontecendo na Espanha no sentido espiritual? Temos certeza de que todos, alguma vez, já lemos ou ouvimos que estamos diante de uma Espanha pós-moderna, pós-cristã e secularizada como nunca antes. A isso, devemos somar a globalização e um de seus efeitos, que é a multirreligiosidade, etc. Esses tipos de definições sobre a Espanha do século 21 merecem, pelo menos, uma menção ou abordagem que nos ajuda a entender os detalhes da vida diária dos espanhóis. A pós-modernidade é a soma de uma série de elementos que foram alinhados neste século para dar origem a esta forma de pensar. Por isso é que temos a tendência de pensar que estamos enfrentando um desafio geracional, mas a verdade é que a cosmovisão de uma sociedade mudou.
O pós-cristianismo é a perda de todo o sentimento de pertencer a uma identidade espiritual baseada em princípios de vida que, no caso da Espanha, seriam Cristo e a Bíblia como a palavra inspirada. A Espanha pode ser considerada pós-cristã, pois faz parte do continente europeu cujas raízes eram cristãs e seu fundamento foi o conhecimento da verdade em Cristo Jesus.
A secularização: “Este fenômeno é conhecido como o processo que experimentam as sociedades a partir do momento em que a religião e suas instituições perdem influências sobre elas, do mesmo modo que outras esferas do saber vão ocupando seu lugar. Com a secularização, o sagrado cede lugar ao profano e o religioso converte-se no secular”. Isto se dá porque o humanismo, com seu otimismo sobre as capacidades humanas e o desenvolvimento da ciência, cria um distanciamento critico com a fé, com Deus e com toda instituições que o representem.
Além disso, a legitimidade da diversidade de opções pessoais (ao deixar de lado a religião progressivamente para o campo do privado) e o quadro geral de liberdade religiosa e dissociação dos estados das opções confessionais oficiais (estabelecido desde a modernidade como um modelo dominante) demonstra que, a nível global, o fenômeno da multirreligiosidade está se multiplicando.
Então, ao unir essas definições de pós-cristianismo, secularização, globalização e multirreligiosidade, podemos dizer que estamos enfrentando uma perda total do sentido da vida da raça humana como Deus planejou. Ao mesmo tempo, esses conceitos nos deixam ver que o homem não tem destino seguro para sua vida aqui na terra e muito menos pela eternidade. Viver o dia a dia esperando o que vai acontecer amanhã é a base dessas três correntes ou movimentos que hoje circundam a maior parte da Espanha.
Por tudo isso, deve ser entendido que o crescimento da igreja na Espanha não é rápido. Na última investigação, realizada em 2017, se encontrou um índice de crescimento de novas igrejas de 9% a mais que nas últimas décadas. Isso promoveu uma ação de graças e novo encorajamento para seguir trabalhando.
No entanto, a Espanha ainda é um país com menos de 3% de Cristãos, e com muito trabalho a ser feito, especialmente em centenas de cidades entre 20.000 e 30.000 habitantes que não têm uma igreja.
Há um forte “chamado macedônico” da Igreja Evangélica Espanhola para a Igreja em todo o mundo. São necessárias muitas pessoas dispostas a investir suas vidas na evangelização da Espanha, sabendo que é necessária a inculturação ou imersão cultural por parte de qualquer missionário que deseja compartilhar o evangelho de Cristo em terras espanholas. É preciso reconhecer que já existe uma Igreja na Espanha e, portanto, ela e sua liderança devem ser contadas para coordenar a tarefa, para que seja mais efetiva.
Esta é a dura realidade que temos diante de nós como um desafio de fé. Como disse o apóstolo Paulo: “porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu… E, como eles se não importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convém;” Romanos 1:21, 28.
Isso, entretanto, não é uma questão de julgamento ou desesperança, pelo contrário, é um incentivo para pensar que Deus está mais preocupado agora, com a Espanha, do que talvez nenhuma outra época na história.
O amor de Deus é suficiente para trazer de volta luz espiritual para um país que precisa dela com urgência.
Jesús Londoño T.